NANOCONTO

Em passos não tão ligeiros, porém largos e estáveis, eu perambulava sem rumo, descontraída e sem a menor pressa, e os acontecimentos se desenrolaram assim...  

Tarde de sol ameno. Uma leve brisa desfilava suavizando o mormaço, embora já estivéssemos em meados da estação do calor que prometia ser a mais quente dos últimos verões.
Atravessei a praça. No visual nada de incomum: pais brincando com seus filhos; adolescentes em patins; jovens em suas bikes; outros viajando em suas leituras; casais enamorados... uma típica tarde de sábado.
De súbito, deparai-me com aqueles olhos mel que me fitavam. O fôlego faltou-me e a distância para recuperá-lo parecia totalmente fora de alcance. Um arrepio estranho começava traçar seu trajeto, cuja sensação não me lembro ter sentido antes. Não conseguia fixar o olhar, minhas pálpebras batiam descompassadamente, meus olhos simplesmente não me obedeciam. Com certeza minhas pupilas ultrapassavam o globo ocular. As palmas das minhas mãos desmanchavam em pura sudorese. Tive a sensação que meu peito rasgaria naquele momento e meu coração sairia a galope. O nervosismo tornou-se incontrolável e perceptível. Meu desejo naquele momento foi de evaporar, como num passe de mágica... ah, se isso fosse possível! Não evaporei. Às vezes, os desejos que declaramos não conferem com os mesmos do coração... em algumas situações é até um alívio. Aos poucos, num autocontrole forçado comecei a entender o que estava acontecendo. Foram aqueles olhos mel. Olhos desejosos... Olhos famintos! O feromônio exalou e compeliu. E foi o final de tarde mais surpreendente que já vivi!  

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